Como enfrentar uma plateia
Saber falar em público, enfrentar uma platéia, criar desde o início uma empatia com os ouvintes, além de levá-los a prestar atenção em cada uma de suas palavras é um problema que, em todo o mundo, ainda tem tirado o sono e feito suar as mãos de muita gente. Mas existem soluções para isto. E, segundo um especialista no assunto, o norte-americano Jack Valentin, autor do livro “A Arte de Falar em Público”, que já vendeu alguns milhares de exemplares em todo o mundo, “não existe nada realmente especial a ser indicado para falar para as pessoas, pois isto não é um dom genético herdado, nem está sujeito à inspiração divina”. É um ofício que se aprende, de acordo com ele, “exatamente como se aprende o ofício de marceneiro, de esquiador ou de saxofonista”. Basta treinar, ter muita persistência e saber que, querendo, você poderá conseguir. É só estar disposto e ir à luta.
Quem também entende deste assunto, pois a ele já se dedica há muitos anos, e por isto concorda inteiramente com as palavras do norte-americano, de quem também é leitora assídua, é a psicóloga mineira Eliane Aguiar, que diz mais:
“O que mais atemoriza as pessoas em um momento assim, se não estão preparadas para tal, é o medo de darem vexame, de se tornarem ridículas, de não serem entendidas”. Situações como estas, tão comuns no dia-a-dia, no entanto, ainda segundo a psicóloga, cujo curso “Falar em Público: Ferramenta de um Líder” tem ajudado muita gente a encarar uma platéia, mesmo que ela seja composta por cinco, seis pessoas – já que não importa o número de ouvintes, mas o que se tem a dizer e como fazê-lo”, segundo a psicóloga.
Ela ensina que uma das primeiras providências a serem tomadas, em casos assim, é que a pessoa não tenha receio de se expor, que se mostre por inteiro e não tenha medo do que irá falar. “Mas estudar o assunto antes, se inteirar o máximo possível sobre o mesmo e dominá-lo, também é imprescindível”, diz a psicóloga, para quem o saber se expressar bem, com segurança e sem muitos rebuscamentos pode reverter, na maioria das situações, o quadro a favor de quem está falando, mesmo que o assunto não seja dos mais agradáveis. Pois ao contrário, caso o orador se mostre inseguro e sem acreditar no que está expondo, aí o desastre é certo.
E como para repará-lo depois não será nada fácil, então o melhor mesmo é se prevenir.
“Mas o que posso fazer para conseguir transmitir bem a minha mensagem, fazer com que as pessoas a assimilem?” Perguntas como esta a psicóloga, ela mesma “meio tímida”, antes de começar a se olhar de frente, ouve todos os dias das pessoas que a procuram. E a resposta, na ponta da língua, é simples: “comunicar, antes de tudo, é você conseguir dizer algo com uma linguagem verbal, ou não verbal e fazer com que o outro entenda.” Porque se o outro não o entender houve qualquer coisa, “mas não comunicação”- completa a psicóloga. Ter uma boa bagagem de leitura, ela diz, também ajuda muito a quem faz da palavra a sua principal ferramenta de trabalho.
Ela lembra ainda que, alcançar a naturalidade, desde que ela seja agradável para quem está vendo ou ouvindo, também é necessário no decorrer deste processo. Mas cuidado: não confunda naturalidade, por exemplo, com gesticular demais, tentando se mostrar como uma pessoa extrovertida, além da conta, pois o tiro poderá sair pela culatra. Também andar para lá e pra cá enquanto fala, sem saber os passos que está dando, pode ser prejudicial e fazer com que o público se disperse ante suas palavras.
Uma outra arma infalível para os que necessitam do falar para vender o seu peixe, seja ele do tamanho que for, é a arte do sorriso, que se bem colocado e natural pode desarmar o mais sisudo dos seres humanos. “Eu sempre digo aos meus alunos que sorrir é de graça e encanta”, diz a psicóloga, que afirma ainda ser a atração de um sorriso infalível para se criar uma empatia entre palestrante e ouvinte. Uma outra dica que ela dá: “ter humildade e não ficar só se preocupando com o que os outros irão pensar de você”, já que isto poderá lhe trazer mais tranquilidade e segurança. É ainda uma questão de auto-estima.
Naturalidade
O exercício da naturalidade e espontaneidade, ainda segundo a psicóloga, que se formou pela Newton de Paiva, é uma outra peça importante nesta área. “Se mostre como você é, sem tentar imitar ninguém, pois sendo natural suas chances de sucesso serão maiores, já que os ouvintes com certeza perceberão isto”. Não tentar fazer piadas, se a pessoa não tem dons para o humor, por exemplo, é uma coisa indicada, pois nada é pior, diz Eliane Aguiar, “do que uma piadinha fora de hora, da qual ninguém acha graça. O silêncio que se estabelece em seguida, às vezes, dá provas de que o tiro saiu mesmo pela culatra”.
E uma outra coisa: não se esqueça de ser simpático, sempre, mesmo que alguém lhe faça alguma gracinha, já que se você reagir agressivamente, “o público, que antes estava do seu lado, poderá se voltar contra você”.
Uma outra dica dada pela professora é em relação ao tempo de duração de uma palestra, que segundo ela, nunca deve ultrapassar uma hora e meia, no máximo, para que o público não comece a mostrar sinais de cansaço”. Quando as pessoas começarem a ficar irrequietas, a surgir uma ou outra conversa, um bocejo, ou alguém se levantar, é porque a conversa não está agradando, e isto irá deixar o palestrante inseguro”, ensina a psicóloga, que se lembra de um conselho que sempre era dado por Lyndon Johnson, ex-presidente dos Estados Unidos: “seja breve no que tem a dizer e sempre saia no auge da festa”. E embora reconheça que às vezes isto não é fácil, Eliane Aguiar está de pleno acordo com o ex-presidente americano.
E por último, ela diz, “treine, treine muito”, pois nada do que for ensinado terá valor se a pessoa não começar a praticar, a transformar em situações concretas, através de palavras, o que lhe foi ensinado na teoria.